
Os desdobramentos da Operação Faroeste, que apura um suposto esquema de venda de sentenças por juízes e desembargadores do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) e culminou no afastamento do secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, e de três desembargadores, tem lançado uma sombra sobre a credibilidade do Judiciário baiano.
De acordo com procuradores do Ministério Público Federal, com base em dados coletados pela operação, estima-se que a Faroeste, a primeira contra a corrupção no Judiciário baiano, pode atingir até 20% dos desembargadores do estado.
Em entrevista ao programa Isso é Bahia, da rádio A TARDE FM (103.9), a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça e ex-corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, falou sobre sua experiência na corregedoria e o combate contra corrupção no meio jurídico do estado.
“Como corregedora eu tinha conhecimento de muitas coisas que se passavam na Justiça da Bahia e sabia dessa relação existente com interesses políticos. Essas questões do Judiciário não ficam apenas entre ele e os interesses particulares. Com a minha vivência na corregedoria pude observar essa corrupção no Judiciário e tentei combater para dar uma freada. Se você não combate a corrupção, a tendência é ela ir contaminando outras pessoas e vira uma bola de neve. Foi o que aconteceu na Bahia. As coisas começaram através de troca de favores e interesses políticos e foram piorando na medida que não se tomou nenhuma providência. Quando eu cheguei, já encontrei desenhado esse quadro”, afirmou.
De acordo com Eliana, a Operação Faroeste tem potencial para ser um divisor de águas entre os poderes mas para isso precisará resistir aos “interesses políticos” que por muitas vezes enfraquecem as investidas contra a corrupção em todas as esferas.
“Tudo vai depender de como a Faroeste vai chegar até a sua finalização. Em muitas vezes as operações começam com bastante intensidade e quando desaguam no poder político, a tendência é haver um recuo. Isso eu tenho experiência não só como corregedora mas também na minha atuação como ministra. Estive à frente de várias operações e isso é o que acontece. Muitas operações tem esse alarde todo e daqui a pouco some tudo pois há uma tendência do poder político ser mais forte e para não ser atingido, diminuir através da influência o efeito das operações”, avaliou.
“Conheço muito bem o Og Fernandes”, atual Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). “É um ministro severo, muito sério e está empenhado em resolver a questão da grilagem de terras na Bahia. Agora, com os desdobramentos que estamos tendo, isso torna a operação mais complexa. Espero que vá a fundo e que a Justiça Baiana recupere o crédito que vem perdendo. Cada operação dessa é um descrédito para a Justiça”.